O que você pode aprender com a música do Michel Teló
A cada vez que eu parava para pensar na coluna de hoje a única coisa que vinha à minha cabeça era: "Nossa, nossa, assim você me mata". Não sei por que, mas resolveram colocar essa música no inconsciente coletivo do mundo, então não importa se você nunca a ouviu, você sabe cantar e dançar. É a nova Macarena.
Pode ser que seja só 2012 indicando mesmo o fim dos tempos, em que o top das paradas musicais do mundo seja essa música, ou um preview do que acontece com quem não é bonzinho enquanto vive. Deve ser essa a trilha sonora do inferno, em repeat por toda a eternidade.
Mas, deixando o gosto musical e a qualidade da obra prima que mais cola na cabeça nos últimos tempos, achei que essa música não parar de tocar dentro da minha cabeça era um sinal. Essa música tem muito a nos ensinar, tem uma mensagem a ser passada;
principalmente para nós, mulheres.
principalmente para nós, mulheres.
Primeiro fiquei pensando em qual seria a minha reação se um dos meus amigos contasse, na mesa do bar, a seguinte história:
- Sábado, na balada, Carol, a galera começou a dançar. E passou a menina mais linda, tomei coragem e comecei a falar.
- O que você falou pra ela?
- Nossa, nossa, assim você me mata. Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego.
- Sério mesmo? E esse olho roxo é por causa dessa ideia genial?
Esse foi o único fim que consegui pensar para a conversa imaginária porque, se um cara fala esse tipo de coisa para uma desconhecida, é o que ele merece em troca.
Depois de criar esse papo, pensei em como eu e grande parte das minhas amigas reagiríamos com um "Delícia, delícia, assim você me mata. Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego" e confesso que essa parte do "Ai se eu te pego" me deixa apavorada. Imagina você, em uma rua escura esperando o ônibus, e o cara para do seu lado, te chama de delícia e diz: "Ai se eu te pego". É hora de gritar por socorro e correr sem olhar pra trás.
Mas levando a história para o lugar certo — a balada — como você agiria se fosse abordada dessa maneira? Eu acho agressivo demais, acho que é como se o cara a segurasse pelo braço ou passasse o braço ao redor da sua cintura sem o seu ok. E isso não pode.
Meninas, pode ser muito engraçadinho ouvir essa música, mas a gente não pode achar que esse é o tipo de rapaz galanteador que merecemos! O príncipe do cavalo branco não existe, mas esse cara que te chama de delícia na balada, sem nem te conhecer, sem nem saber seu nome, não é mesmo uma versão moderna dele. E nem um cara para quem você deveria dar uma chance.
Um relacionamento precisa de respeito, seja como for. Seja um namoro, um caso, uma ficada, uma troca de casais no swing, um ménage, uma relação de poliamor... Respeito é a base para tudo, ainda mais para começar algo. E ser abordada, em qualquer lugar, sendo chamada de delícia é quase acreditar que é elogioso ouvir galanteios frente a uma construção. Não é e nós sabemos o tipo de coisa nojenta pode sair dali.
A música do Michel Teló ensina pra gente que queremos um cara que pergunte nosso nome, que converse por algum tempo antes de tentar nos beijar, que se interesse mais por nosso papo do que por nossa bunda - que é sim linda, mas não é o foco.
Se o seu namorado a chama de delícia, ótimo, vocês têm intimidade. Um ficante também pode, claro, se torna engraçadinho, charmoso. Mas ser abordada dessa maneira é só assustador.
Como sempre, somos ensinadas que tudo bem ser vista como corpo, que é assim mesmo, que os homens não conseguem se expressar bem. Mas na hora de xingar o juiz que 'roubou' o time dele, ele se expressa bem, né? Sim, isso é um tipo de sentimento. Ele sabe se expressar, só não quer.
A verdade é que a gente tem que parar de aceitar migalhas. Não há falta de homem no mundo, há falta de gente legal. E se você parar de procurar no lugar errado, com as motivações erradas, pode encontrar um cara incrível que vai chamar você de delícia na hora certa.
Chega de aceitar menos do que merecemos. As preliminares começam bem antes do contato físico, elas começam quando os olhos se cruzam e, se o cara não manda bem já aí, não vai mandar depois. Acredite.
E você, já recebeu/deu uma cantada com essa música? Como reagiu/foi recebida?